quarta-feira, 5 de maio de 2010

Seu teclado tem emoção?


Hoje, li muitas crônicas. Pois é, esta é uma das minhas paixões. Passar horas na frente do computador lendo os textos dos meus autores prediletos: Martha Medeiros, Clarice Lispector, Fernando Pessoa e Mario Quintana. Durante a leitura, uma crônica me chamou muito a atenção, pois ela veio ao encontro de algo que me atormenta muito: a forma que escrevemos algo por e-mail, msn, etc e como a pessoa do outro lado interpreta isso.

Ontem à noite, me peguei escrevendo sobre "tomates" e a pessoa entendeu "abobrinha", só podia dar briga, neh. Pois é, eu fiquei frustrada porque um amigo não entendeu como eu precisava conversar com ele naquele momento e como eu queria a opinião dele sobre o assunto. Mas coitado, ele ao ver minhas meias palavras não sabia realmente a emoção que elas carregavam. Ele não sabia que eu estava pra baixo, que estava carente e me sentindo sozinha....é por isso que o texto abaixo me chamou tanto a atenção, porque ele nos faz refletir sobre estas mensagens virtuais.

A gente substitui tanto hoje um telefonema, um contato pessoal por meia dúzia de palavras e nem sempre nos expressamos da melhor forma. O problema é que a gente cobra que o outro leia não apenas o que escrevemos, mas nosso pensamento e nosso sentimento naquele momento. Aí é que a confusão começa, pois isso é complicado demais...Bem, deixa eu abrir espaço para Martha Medeiros, pois ela sabe explicar melhor do que eu a emoção que o teclado não carrega. Se tiver um tempo, leia. Vale a pena!

"Fui absolutamente rendida pelo poder das relações virtuais. Acredito que é possível conhecer alguém por e-mail, se apaixonar por e-mail, odiar por e-mail, tudo isso sem jamais ter visto a pessoa. As palavras escritas no computador podem muito. Mas nem sempre enxergam a verdade.

São sete horas de uma manhã chuvosa. Você não dormiu bem à noite. Põe pra tocar um som instrumental que deixa suas emoções à flor da pele. Vai para o computador e começa a escrever para alguém especial as coisas mais íntimas que lhe passam no coração. Chora. Escreve. Olha para a chuva. Escreve mais um pouco. Envia.
São onze horas da noite deste mesmo dia. O destinatário da sua mensagem está dando uma festa. Todo mundo fala alto, ri muito, rola a maior sonzeira. Ele pega uma cerveja e dá uma escapada até o computador. Abre o correio. Está lá a mensagem. Um texto longo que ele lê com pressa. Destaca algumas palavras: "a saudade é tanta... sozinha demais... dividir o que sinto..." Papo brabo. Responderá amanhã. Deleta.

Alguém pode escrever com raiva, escrever com dor, escrever com ironia, escrever com dificuldade, escrever debochando, escrever apressado, escrever na obrigação, escrever com segundas intenções. Nada disso chegará no outro lado da tela: a pressa, a hesitação, a tristeza. As palavras chegarão desacompanhadas. Será preciso confiar no talento do remetente em passar emoção junto de cada frase. Como pouquíssimas pessoas têm esse dom, uma mensagem sensível poderá ser confundida com secura, tudo porque faltou um par de olhos, faltou um tom de voz.

Se você passou a desprezar alguém, pode escrever "não quero mais te ver". Se você ama muito alguém, mas a falta de sintonia lhe vem machucando, pode escrever "não quero mais te ver". Uma mesma frase e duas mensagens diferentes. Palavras são apenas resumos dos nossos sentimentos profundos, sentimentos que para serem explanados precisam mais do que um sujeito, um verbo e um predicado. Precisam de toque, visão, audição. Amor virtual é legal, mas o teclado ainda não dá conta de certas sutilezas.

Um comentário:

  1. Pois é. Quantos mal entendidos já foram causados pela superficialidade que a facilidade tecnológica nos permite? E quem nunca foi vítima deles?
    A cada dia a gente aprende uma forma diferente de sobreviver nessa selva virtual. E evolui com isso. Graças a Deus!
    Amo demais, posso?

    ResponderExcluir