
Engraçado, tem coisas dentro da gente que não gostamos de mexer. Sabe aquele quarto dos fundos em que você guarda suas maiores bagunças e que não entra lá, pois sabe que se mexer vai acabar achando seu passado, suas lembranças...
Hoje, eu cheguei da faculdade e mudando de um canal para o outro, eu decidi assistir Rocky IV. Eu já assisti este filme diversas vezes quando era mais nova, mas naquela época nem passava na minha cabeça o objetivo deste filme, que é mostrar o grande herói norte-americano, aquele que derrota todos, que pode tudo e que, neste filme, colocou a Russia no chão.
Mas enfim, não foi pela história e tampouco pelo rosto novinho do Stallone que eu resolvi assistir este filme, mas sim porque lembrei do quanto meu pai adorava assistir ele comigo. Nunca falei do meu pai aqui e falo pouco dele para as pessoas. Digamos que meu pai é uma ferida não cicatrizada que quando eu falo sobre dói ainda mais. Pois é, eu decidi assistir ao filme, pois de certa forma eu me senti perto dele.
Meu pai que estou falando é aquele que não é de sangue, mas que é de coração. Lembrei das tantas vezes em que eu e ele ficamos acordados de madrugada, assistindo luta-livre, fórmula 1, filmes, o que fosse. Ele dizia "menina, vc devia ter nascido homem". Eu adorava a companhia dele. No estádio de futebol, a gente fazia a festa. Mas o melhor momento não era gritar gol, mas sim comer o churrasco com pão na frente do morumbi...hahaha...(era uma delicia)...ele pedia o de pernil e eu sempre o de calabresa. Lá, somente lá no estádio, ele permitia que eu falasse palavrão e até dava risada quando me via gritando feito um homem..era engraçadíssimo.
Não sei como, mas este filme me fez recordar tanta coisa boa, me fez lembrar do meu pai com tanta saudade. Hoje, tenho 25 anos, sou formada, estou nos Estados Unidos, adoro trabalhar, sou responsável, sou honesta e sabe quem me ensinou quase tudo que eu sei? Foi ele, meu velho. Meu paizinho que eu amei e que amo tanto. É uma pena que o destino e as circustâncias da vida tenham nos distanciado. Mas o bom é saber que tenho meu quartinho dos fundos, onde eu sempre que sentir saudades posso entrar e recordar tudo que aprendi, tudo que vivi e tudo que ele me ensinou sobre a vida.
Não gente, ele não está morto. Mas ele decidiu tomar outro rumo na vida. Porém, ele deixou pegadas, muitas pegadas aqui no meu coração velho de guerra...e eu sei que quando eu estiver pronta, eu saberei onde e como encontrá-lo.
Bom, nem preciso dizer que estou me acabando em lágrimas, né. Por isso, vou parar por aqui. De repente fiquei carente e então vou aproveitar pra dizer que to com muita saudade dos meus amigos, da minha mãe e que falta pouco pra eu estar aí do ladinho de vocês.
Bjo enorme!